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publicação de artista
90 páginas
10,7 x 14,5 cm
2023




Este pequeno livro de artista, posteriormente publicado pela Editora Latina, com prefácio de Marjorie Yamaguti, traça a poética da artista ao questionar as narrativas que imperam a subjetividade que forma nossa identidade enquanto povo e sujeito latinoamericanos.
A condição do apagamento de uma história, contada pelo viés do colonizador, que é visto como "conquistador", "descobridor" e "desbravador" em sua chegada a um continente que já era habitado por diversas populações, com diferentes culturas, cheio de riquezas e especificidades, ser descrita como "descoberta" e não como "invasão", como deveria ser expressa, é um exemplo de narrativa a qual deriva no imaginário popular. Porém, é importante nos perguntarmos de onde — de quem — originam narrativas como esta.
A violência simbólica, que as disputas por narrativas geram, vai além, somadas às disputas territoriais ocorridas em Abya Yala — até ser transformada em América Latina. O poder da narrativa está na mão de quem conta a história, pois é esta que será perpetuada. A importância da história para um povo está em sua percepção sobre si, a memória que irá condicionar o coletivo e carregar saberes, linguagens e costumes através das gerações. Um povo que não conhece suas raízes tende a defender seu opressor.
A publicação narra, no decorrer de suas páginas, inquietações da artista acerca das narrativas construídas ao longo da história com finalidade de exercer poder simbólico sobre uma população — em especial, no continente latinoamericano.


Suas folhas, em papel vegetal, propiciam a transparência que permite a sobreposição das palavras entre diferentes páginas. Essa transposição nos possibilita ver as palavras presentes em outras páginas, porém, sem nitidez, com desfoco e embaçamento que aumenta conforme as páginas se distanciam. Tal efeito remete a formação imagética de nossas memórias. Temos lembranças nebulosas, que se misturam, se embaralham, não conseguimos ver com tanta clareza e nitidez, muitas de nossas memórias não passam de borrões e fabulações.
A partir dessa reflexão, a artista associa tais efeitos de nossa memória pessoal com a memória coletiva narrada por histórias/estórias. Demonstra como esse embaçamento acaba gerando divergências entre as narrativas sobre a história e memória de uma população, o que pode gerar um enfraquecimento sobre um povo explorado que perde seu direito a contar sua própria história em confronto ao que é dito pelo seu colonizador.