Ensaio Tátil sobre Vermelho
livro tátil - tecidos, papeis, lixas, linhas, fitas e bordado.
25 x 24 cm
2023




A obra brinca com os sentidos, ao propor um ensaio (gênero textual) que não é escrito, mas tátil e visual. Convida o público a sentir a cor vermelha em materiais com diferentes texturas, ao passo que, no meio do trajeto, questiona diferentes simbolismos postos como representação do vermelho, demonstrando noções contraditórias e irônicas sobre esses significados. Historicamente, é atribuído a cor vermelha diferentes sentidos. De vida à morte, de pecado à revolução, dependendo da crença proveniente que legitima tais informações.
Vermelho, primariamente vista como a cor do sangue. Podemos referenciar o sangue que escorre todo mês do útero da mulher e citar seu caráter de fertilidade como um ato sagrado que dispõe da ação de conceber uma nova vida, mas se a mulher não for posta na centralidade, e a discussão for a partir da experiência do corpo masculino, o sangue que cai é devido ao ferimento — podendo referir a dor e a morte. Com isso, a igreja já alegou, ao longo dos séculos, algumas definições ao vermelho, apenas por ser a cor do sangue. Sendo o homem (cis) o protagonista da história cristã, o vermelho não poderia ser visto positivamente, nesta narrativa binária de homem-mulher, bem-mal, ao vermelho seria atribuído a cor da morte, da guerra — que mata soldados homens —, do perigo. E, fruto desse sangue, que escorre todo mês da mulher e não a mata, mas quando escorre do homem, pode levá-lo à morte, o vermelho poderia, então, ser descrito como uma cor feminina? A igreja, que sempre destilou ódio às mulheres, as caçando e jogando na fogueira — ironicamente o fogo também pode ser representado através do vermelho — facilmente determinaria que essa cor tão representativa seria a cor do diabo ou demônio, não por acaso, essa figura ainda vigora no imaginário popular até a atualidade. Sendo o vermelho a cor do sangue feminino, também seria ela descrita como a cor da paixão, do desejo carnal proibido, já que foi Eva que deu fim ao paraíso ao cometer o pecado original ao morder a maçã — que, por sinal, é vermelha. Seria, então, a cor do pecado?
Mas da fertilidade derivada do ato gerador da mulher, o vermelho também poderia receber a atribuição de origem da vida, como também de manutenção e preservação, pois é uma das principais cores utilizadas por diversos povos originários do Brasil em suas pinturas corporais feitas com urucum.
Em um salto pela história, essa cor, que passa a ser carregada de tantas (re)interpretações, é adotada pelos movimentos de revolução, encontrando seu lugar de significação entre grupos e partidos de esquerda, principalmente aos partidos comunistas — que é amplamente associado ao vermelho na contemporaneidade.


